Por Artur Gomes de Morais, professor do Centro de Estudos em educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco.
"Em todas as culturas, ser criança está associado ao brincar.A defesa por uma educação que garanta aos pequenos o direito à ludicidade já se tornou bandeira de luta comum no País, de modo que muitos se preocupam com que, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, seja garantido às crianças o direito de, diariamente brincar na escola. Há algumas décadas, temos buscado a ajuda de jogos variados, quando a tarefa docente é ensinar aos principiantes o sistema de escrita alfabética.Desde os anos 1980, defendemos que, ao lado dos jogos e brincadeiras que já fazem parte da cultura popular, quando está em questão a alfabetização, precisamos lançar mão de jogos especiais. Como temos lutado para abandonar os velhos métodos, que tratavam - e ainda tratam - o aprendizado da criança alfabética como uma atividade mecânica e repetitiva, limitada á cópia e à memorização, temos buscado jogos que, numa direção contrária, ajudem as crianças a refletir. Isso é, a aprender refletindo, compreendendo como nosso alfabeto funciona e de apropriando, de modo consciente, de suas convenções letra-som.
Nessa trajetória, temos visto que os jogos de alfabetização podem ser classificados em dois grupos. Por um lado estão aqueles que se adaptam principalmente para ajudar quem ainda está precisando compreender as propriedades do sistema alfabético. Certos jogos fonológicos se prestam especialmente a essa finalidade: ao propor a reflexão sobre partes das palavras orais (sílabas, rimas, e outros segmentos) e de sua forma escrita, ajudam os principiantes que a escrita nota (registra) a pauta sonora das palavras e não outras propriedades (como a forma, o tamanho ou a finalidade) dos objetos que elas denominam.
Se a criança já alcançou uma hipótese alfabética, isto é, se já compreendeu que as letras registram os pedaços sonoros das palavras menores que as sílabas orais, é hora de ajudá-la a consolidar as correspondências letra letra-som. Nesta etapa, que não pode ser negligenciada, e que, desejavelmente, já deve ocorrer, de forma sistemática para a quase totalidade dos alunos no segundo ano do Fundamental, é hora de lançarmos mão dos jogos que envolvem a leitura e a escrita das palavras. Sem deixar de trabalhar diariamente com a leitura (e/ou produção de textos), o recurso a jogos em que os aprendizes leem e escrevem é fundamental. A Caixa Jogos de Alfabetização, que o Centro de Estudos em educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco produziu e cedeu ao MEC, e que há pouco chegou às escolas de todo o Brasil, contém bons exemplos desses jogos. Neles, propomos que os alunos brinquem de:
- Identificar palavras que têm "pedaços" (sílabas, rimas, fonemas iniciais) parecidos.
- Contar a quantidade de sílabas, para descobrir entre duas palavras qual a maior.
- Identificar a presença de palavras no interior de outras palavras.
O Caça-rimas, como o nome indica, propõe que os alfabetizados emparelhem as figuras cujos nomes terminam de forma perecida.Organizando a turma em até quatro equipes, distribuímos uma cartela com seis figuras cujos nomes terminam com determinadas rimas que estão presentes em 20 "fichas" (outras figuras cujos nomes contêm aquelas rimas). Vence o jogo o grupo que primeiro parear as seis rimas possíveis. Com o mesmo espírito o Bingo dos sons iniciais desafia a pensar sobre "pedaços" (sílabas) iniciais das palavras que a mestra "canta".
Já no Palavra dentro de palavra, as crianças trabalham com cartelas contendo figuras cujos nomes, escritos abaixo, contêm outra palavra (por exemplo, tucano, casa), e figuras, em outras fichas, que trazem as palavras "contidas" ( por exemplo cano e asa). Como o objetivo é promover a consciência de que uma sequência de sons que constitui uma palavra pode estar contida em outras, os participantes ( 2, 3 ou 4 jogadores ou grupos) recebem iguais quantidades de fichas com palavras "grandes" e vão retirando de um monte, as palavras "contidas" emborcadas. Vence quem primeiro formar pares com todas as cartelas que recebeu. Em algumas ocasiões, criamos o desafio de descobrir mais palavras dentro das palavras grandes (por exemplo, tu e Tuca, dentro de tucano, ou cá dentro de casa).
Sempre que possível, flexibilizamos os desafios quando fazemos essas brincadeiras especificamente com alunos que estão em diferentes níveis de compreensão da escrita.Também criamos variações nos repertórios de fichas dos jogos para que elas não percam o poder motivados por terem se tornado fáceis demais, graças à memorização. Inspirados no jogo clássico do dominó (com peças equivalentes a 0, 1, 2 ,3, 4, 5 e 6), criamos um Silabó e um Rimanó, nos quais os alunos trabalham com grupos de palavras que compartilham sete segmentos iniciais ou finais idênticos.
Como assumimos a necessidade de alfabetizar letrando, defendemos que as atividades de leitura e de produção de textos tenham que ganhar um ligar cativo na sala de aula, todos os dias, de segunda a sexta. Mas, sabemos hoje, nossa crianças precisam desenvolver, tão cedo quanto possível, um bom automatismo no uso das correspondências letra-som. Sem tal domínio, como poderão compreender com autonomia o que leem e como virão a escrever pequenos textos, possíveis de serem lidos por aqueles com quem convivem? Os jogos aqui descritos e outras atividades e situações são recursos valiosos e motivadores para que, de forma autônoma, os alunos possam exercer práticas letradas."
Saiba Mais:
Internet
BRANDÃO A.C. FERREIRA DE MORAIS. A. G. ALBUQUERQUE, E. B. LEAL, T.L., Jogos de Alfabetização. BRASIL - Ministério da Educação do Brasil, Brasília, MEC, 2009. Disponível em:
www.ceelufpe.com.br/ Manual_de_jogos_didaticos_revisado.pdf. Acesso em 06/02/2012.
LEAL.T.L.ALBUQUERQUE, E.B.LEITE, T.R. "Jogos: Alternativas didáticas para brincar alfabetizando (ou alfabetizar brincando?)"
In: MORAES.A;ALBUQUERQUE, E.B; LEAL, T.F. Alfabetização: Apropriação do sistema de escrita alfabética. belo Horizonte; Autêntica, 2005, pp.111-131. Disponível em:
www.ceelufpe.com.br/e-books/Alfabetização_Livro.pdf. Acesso em 06/02/2012.
Texto da Revista Carta Fundamental (http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/)
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